quarta-feira, julho 30

Matrioska... Matri o que?

É interessante com as histórias chegam até nós. A Arlete Cavalcanti (minha amiga querida e super parceria de várias histórias) comprou a sua matrioska. Eu comentei que adorava começar as histórias com ela. A dúvida da história surgiu. E lógico que o pedido também. Pesquisei em meus arquivos e achei uma pequenina história. E para quem não conhece, segue uma das lendas mais facilmente encontradas.


As minhas bonequinhas

A lenda das Matrioskas
Reza a lenda que um artesão russo moldou uma tão bonita que relutou em vendê-la. Levou-a para casa, colocou-a junto ao criado-mudo e batizou-a de Matrioshka. Todas as noites, antes de dormir, o senhor perguntava se ela estava feliz. Até que certa noite Matrioshka pediu um bebê. O artesão esculpiu, então, uma boneca menor chamada Trioshka, serrou a Matrioshka e colocou o bebê dentro dela. Na noite seguinte, a Trioshka também pediu um bebê. O senhor fez uma nova boneca e colocou-a dentro da Trioshka – desta vez a bebê se chamava Oshka. Assim, seguindo o caminho das outras, na noites seguinte Oshka pediu um bebê, e lá se foi novamente o senhor fazer mais uma. Desta vez, pensando que isso não iria acabar mais, o artesão fez o bebê, desenhou rapidamente um bigode nele e o chamou de Ka, garantindo que seria homem e não iria pedir um bebê novamente.

Se a "árvore genealógica" diz que é Matrioska, Trioska, Oshka e finalmente o Ka com bigode.... A minha tá toda errada! Tenho também 5 bonecas e todas mulheres. Haja fertilidade! 

Bom, com licença, preciso ir. Tenho que pensar um nome para a quarta boneca e pintar um bigode no Ka. E viva a Tradição Oral! 

Até a próxima, 
Elaine Cunha


quarta-feira, julho 23

A visita

 A visita

Sobre a minha mesa, na redação do jornal, encontrei-o, numa tarde quente de verão. É um inseto que parece um aeroplano de quatro asas translúcidas e gosta de sobrevoar os açudes, os córregos e as poças de água. É um bicho do mato e não da cidade. Mas que fazia ali, sobre a minha mesa, em pleno coração da metrópole?
Parecia morto, mas notei que movia nervosamente as estranhas e minúsculas mandíbulas. Estava morrendo de sede, talvez pudesse salvá-lo. Peguei-o pelas asas e levei-o até o banheiro. Depois de acomodá-lo a um canto da pia, molhei a mão e deixei que a água pingasse sobre a sua cabeça e suas asas. Permaneceu imóvel. É, não tem mais jeito — pensei comigo. Mas eis que ele se estremece todo e move a boca molhada. A água tinha escorrido toda, era preciso arranjar um meio de mantê-la ao seu alcance sem, contudo afogá-lo. A outra pia talvez desse mais jeito. Transferi-o para lá, acomodei-o e voltei para a redação.
Mas a memória tomara outro rumo. Lá na minha terra, nosso grupo de meninos chamava esse bicho de macaquinho voador e era diversão nossa caçá-los, amarrá-los com uma linha e deixá-los voar acima de nossa cabeça. Lembrava também do açude, na fazenda, onde eles apareciam em formação de esquadrilha e pousavam na água escura. Mas que diabo fazia na avenida Rio Branco esse macaquinho voador? Teria ele voado do Coroatá até aqui, só para me encontrar? Seria ele uma estranha mensagem da natureza a este desertor?
Voltei ao banheiro e em tempo de evitar que o servente o matasse. “Não faça isso com o coitado!” “Coitado nada, esse bicho deve causar doença.” Tomei-o da mão do homem e o pus de novo na pia. O homem ficou espantado e saiu, sem saber que laços de afeição e história me ligavam àquele estranho ser. Ajeitei-o, dei-lhe água e voltei ao trabalho. Mas o tempo urgia, textos, notícias, telefonemas, fui para casa sem me lembrar mais dele.
 
(GULLAR, Ferreira. O menino e o arco-íris e outras crônicas. Para gostar de ler, 31.
São Paulo: Ática, 2001. p. 88-89)


Eu li esta crônica e guardei-a em meu coração. As recordações nos fazem ser quem somos. Nos constroem como pessoas, como verdadeiros contadores de histórias!
 
O que te faz lembrar de coisas boas vividas? Qual seria a visita que você desejaria receber? O que faz reverberar em seu ser? Reflexão. Tudo leva a sua verdade na hora do narrar!

Até a próxima! 
Elaine Cunha

domingo, julho 20

Você pode contar comigo!!!


Hoje dia 20 de julho, dia do Amigo.

Recebi um vídeo tão lindinho da amiga linda Roberta Souza, do Mix Cultural, e compartilho com vocês.

Liga a caixinha de som. Aperta o play. E aproveita!!!!





É tão bom ter alguém com quem podemos contar, não é? E melhor ainda quando nós somos as pessoas que os amigos podem contar também!

Agradeço aos amigos que me seguraram no colo, que me deram asas para voar... E me permitiram ter um novo olhar perante o mundo. Para vocês, Feliz Dia do Amigo! Saibam que podem contar comigo!

E você, gostaria de enviar este vídeo para alguém em especial?
Então, não perde tempo. Envia. Só encaminhar o post. Fácil e rápido. 
A amizade é um amor que precisa ser regado também!

Até a próxima! 
Elaine Cunha

quinta-feira, julho 17

Um companheiro para muitas emoções

Se eu te contar o que eu sempre tenho na minha bolsa você teria alguma dúvida do que é? Acho que não seria nenhuma surpresa. Pois é. Independente de onde irei, se estou sozinha ou com alguém, se é saidinha para passear ou mesmo consulta médica. Lá estará meu companheiro favorito: meu livro. Eu ando para cima e para baixo com um livro a tira colo. Na bolsa, no carro, na bolsa do filho... No momento que tiver oportunidade de ler, fico "perdidinha" na leitura.

Esta semana, o livro da vez é o "Contando Histórias, Formando Leitores" da Ruth Rocha e Ana Maria Machado pela Edtora Papirus. Comprei-o na feira do livro no ano passado. Putz, percebeu quanto tempo já faz? Lá estou eu, sentadinha numa sala de espera. Plinc. Tirei-o da bolsa e comecei. Capa, contracapa, orelhas, glossário,  sumário...  Será que tem alguém que gosta de passear tanto pelo livro para imaginar as possibilidades antes mesmo de começar a leitura além de mim? Depois de tanta viagem pela minha imaginação, que tal começar a leitura propriamente dita do livro? 

É um livro numa estrutura divertida. Eu gostei! As autoras conversam entre si e os diversas tema vão se desdobrando. Este bate-papo é tão leve, tão gostoso que você continua a ler sem ser cansativo. E as pérolas que você encontra no meio dos diálogos realmente são as famosas cerejinhas do bolo! 

"-Eita, será que eu trouxe meu lápis aqui na bolsa?"-pensei. O que me chamou atenção? Duas pérolas seguidas. Vem comigo! 

As escritoras contando como começaram a trabalhar juntas em um projeto para revista Recreio e a Ana Maria Machado lembra da emoção de contar história para a filha da Ruth Rocha. Mesmo quando a sobrinha estando com medo da história, coração mais acelerado, ela não parava de dizer: "Continua, tia. Ai que medo bom!" (pag 11). E depois, a Ruth Rocha relembra uma citação da Tatiana Belinky que dizia "que história boa é a que nos faz rir ou faz chorar" (pag11) E ainda continua ao dizer que "o que ela quer dizer é que história boa é aquela que emociona". (pag11)

Nossa, como eu acredito nestas citações! Eu lembro que desde que comecei neste mundo encantado das histórias, cada história que leio, ouço e mesmo estudo... algo fica impregnado em mim. Não tenho como não me recordar das histórias que ganhei de presente em minha vida. Não tenho como não me recordar da minha primeira história narrada lá na biblioteca, do carinho do mestre Giba Pedroza em me guiar...

Quando eu contei ao mundo que estava à espera do meu filhote, eu usei uma história. (Veja aqui post). Reescrevi uma parte dela. É uma história boa! Ela me emociona. E no chá de bebê, minha querida e amiga Dora Estevez contou esta história completinha para mim, para o marido, para o filho e para os amigos presentes. Recordo-me de sua voz doce e sua extrema sensibilidade na narrativa. Nem preciso dizer o quanto esta história é forte para mim!!! Lembrei-me de tudo isto ao ler dois pequenos parágrafos do livro citado. São ou não são pérolas que ela compartilham conosco e nos permitem viajar em nossas recordações? 

Segui minha leitura, deparei-me com mais uma grandiosidade. A Ana Maria fala que sempre gostou de ler e o entusiasmo pela leitura das crônicas. Que ela colecionava, digitava, mimiografava... Gente, senti o cheiro do estêncil molhado no álcool para os trabalhos de escola! Mais uma vez, viajei nas minhas lembranças. Sabe onde eu estava? Na casa da minha avó materna que também era professora. Ah que saudade dela.

Viajando nos pensamentos, nas lembranças, eu tinha até esquecido o que estava ali a fazer quando de repente ouvi: 

"Oi, Você é a Elaine Cunha?"

Sorri. Fechei meu livro, guardei-o na bolsa, as recordações no coração, voltei ao mundo real. E segui. A vida continua! 

Até a próxima!
Elaine Cunha