quarta-feira, junho 27

As Origens dos Contos de Fadas


CAMINHANDO COM Cristiane Takemoto.

As Origens dos Contos de Fadas.

Olá! Que bom que você está aí! Então vamos retomar a nossa conversa!

Em nosso encontro anterior, falamos que os Contos de Fadas são uma antiga manifestação cultural de origem popular, que eles abordam os conflitos primordiais em uma linguagem simbólica e fornecem modelos de comportamento. Os acontecimentos narrados seguem uma sequência de que vai da insatisfação ao júbilo, passando por muitas dificuldades, lutas e sofrimentos e embora tenham esse nome, não é imprescindível que haja fada ou bruxa entre seus personagens. Comentamos também que, além das narrativas tradicionais, alguns autores vêm escrevendo histórias que seguem os argumentos e a estrutura dos Contos de Fadas.

Passaremos então a falar sobre a época em que apareceu a denominação ‘Contos de Fadas’ e em que circunstâncias essa denominação passou a ser usada.

Embora alguns autores acreditem que estas narrativas têm origens indo-europeias que se perdem na história da humanidade, muitos estudiosos atribuem seu surgimento no ocidente  ao cenário medieval. Assim, passaremos a trabalhar com um recorte teórico-didático, circunscrevendo o gênero Contos de Fadas em uma linha do tempo, sem esquecer que possivelmente ele já existia antes e que perdura até os dias atuais. Então vamos lá!

Antes da expansão do Império Romano, viviam na Europa povos culturalmente distintos como, por exemplo, os celtas, que cultuavam a natureza simbolizada pela figura de uma mulher, a Deusa. Eles tinham sua própria mitologia e gostavam de contar histórias de fadas, bruxas e outros seres mágicos que eles acreditavam que viviam nas florestas. Para sustento de suas comunidades, cultivavam a terra e criavam rebanhos.

O povo celta descendia de diferentes tribos. Eram batavos, belgas, bretões, caledônios e gauleses entre outros povos e se espalhavam pelo continente europeu constituindo uma espécie de estado-nação. Havia disputas entre os diferentes grupos, mas nada que pudesse se comparar a envergadura bélica do Império Romano. Provavelmente por isso, foram praticamente extintos. Seu gosto pelas histórias mágicas, entretanto sobreviveu e tornou-se uma tradição popular típica da Europa Medieval.

Os mapas abaixo mostram a divisão de terras na Europa antes e durante a ocupação romana. No primeiro, vemos em amarelo a localização das tribos célticas originais, em verde claro, o território em que viveram no auge de sua expansão e em verde escuro as áreas remanescentes desta cultura, onde até hoje línguas célticas são faladas. O outro mapa, mostra em rosa a área conquistada pelo Império Romano em uma sucessão de batalhas sangrentas.



Depois de ocupar um enorme território, o Império Romano perdeu sua força e ruiu. Com sua queda, teve início a Idade Média, período compreendido entre a decadência do Império Romano, no ano de 476 d.C., e o início da descoberta do Novo Mundo, em 1492. Os historiadores dividem essa época em uma fase inicial chamada de Alta Idade Média e uma segunda fase chamada de Baixa Idade Média.

No tempo conhecido como Alta Idade Média, aconteceram muitas guerras e invasões, por isso, a sociedade passou a se organizar em pequenos agrupamentos populacionais chamados feudos. Nesse espaço murado, os vassalos trabalhavam na terra e cuidavam dos animais enquanto recebiam a proteção do senhor feudal. Como gratidão por um serviço prestado, o Rei ocasionalmente concedia títulos de nobreza, fazendo do vassalo leal um marques, conde ou duque.


    
Maquete de um feudo medieval e cena da vida cotidiana dentro dessas cidadelas.
Fonte: Livro Aberto http://www2.bp.blogspot.com

Dentro das muralhas do feudo, havia muitos contrastes que se converteram em traços constitutivos dos contos de fadas. Os nobres casavam entre si e tinham acesso aos luxos da época, como roupas, sapatos e mesa farta. Os aldeões dedicavam-se ao trabalho em troca de comida e proteção. E os que ficavam fora dos muros estavam entregues à própria sorte. Era o tempo das belas princesas e dos príncipes encantados.

A Baixa Idade Média iniciou por volta do ano 1000 e os historiadores afirmam que nela a população europeia cresceu e o comércio se intensificou beneficiado pelos avanços da agricultura e pela produção artesanal de utensílios como objetos de metal e rodas de fiar entre outros. Os artesãos produziam e os mercadores comercializavam os artefatos tanto em feiras quanto em mercados ou como itinerantes, de porta em porta.

Com o passar do tempo, a estrutura feudal foi se deteriorando e o continente europeu passou por longos períodos de miséria e privação. Nessa época, a Europa foi assolada pela Peste Bubônica, uma terrível doença infecciosa transmitida pelos ratos, que matou aproximadamente um terço da população. Histórias como a de João e Maria remontam este cenário.

A sociedade medieval foi fortemente influenciada pela igreja. Também conhecida como Idade das Trevas, nessa época houve um declínio das manifestações culturais em geral, sobretudo das artes, incluindo-se aí a pintura, escultura e das produções textuais. As pessoas que viviam nos vilarejos medievais não tinham acesso à escrita, pois só nobres e integrantes da igreja aprendiam ler e escrever. Foi nesta época que os monges copistas transcreveram os textos sagrados que deram origem a livros como a Bíblia.


    
Fonte: http://fotos.sapo.pt             e             http://www.chess-theory.com

Tais condições fizeram com que a oralidade passasse a ser o principal meio de transmissão de conhecimentos. Através dela, a natureza sociável do ser humano superou as dificuldades de tempo e espaço e perpetuou as histórias de sofrimento, lutas e conquistas. A obscuridade do período medieval foi extremamente fértil nesse sentido, transformando a contação de histórias em uma alternativa para manter viva a cultura e a historicidade das camadas populares. É provavelmente por esse motivo que os Contos de Fadas foram associados a esta época.

Foi assim que fatos e acontecimentos corriqueiros se misturaram com os desejos e temores próprios da alma humana, criando uma teia encantadora onde os fios da realidade e da fantasia se entrelaçam formando a mescla encantadora das belas narrativas que tanto gostamos de ouvir e contar. Reis poderosos, lindas princesas e príncipes encantados se misturam com bruxas malvadas, criaturas mágicas e feras indomáveis. Uma criança abandonada, uma família carente até anomalias anatômicas passaram a fazer parte do enredo para o eterno duelo entre o bem e o mal.



Repetidos de geração em geração, os Contos de Fadas têm divertido crianças e adultos e para saber mais sobre o assunto, os interessados devem procurar ler entre outros, o autor Bruno Bettelheim. Embora haja certa polêmica sobre outros temas publicados por esse professor e pesquisador do Curso de Psicologia da Progressive Education Association da University of Chicago (EUA), seu livro A Psicanálise dos Contos de Fadas (2007) é uma referência muito respeitada.

Segundo Bettelheim, o que diferencia os Contos de Fadas de outros tipos de histórias é que estes remetem a problemas existenciais, os conflitos primordiais, e aos aspectos constitutivos do sujeito. Ou seja, os Contos de Fadas falam questões humanos como dilemas, medos, angústias, disputas e paixões.

Para ele, o grande diferencial dessas narrativas é a possibilidade de movimento catártico através da identidade com os personagens, estimulando a superação das dificuldades. Ele afirma também que seus significados atuam em diferentes áreas do sujeito, auxiliando a liberação de emoções reprimidas, o desenvolvimento da linguagem e a interação social.


    

O que deixa essas narrativas mais interessantes é que elas funcionavam assim na Idade Média e continua desempenhando estas mesmas funções na atualidade. Muitos estudos concordam que seria essa a razão que mantém vivos os contos, independente do tempo e do lugar em que se vive. Glória Radino e Nelly Novaes Coelho são outras boas leituras. Elas falam dos contos de maneira acessível e interessante e agregam muitos conhecimentos a esta temática.


                  Fonte: http://www.google.com

Enfim, em tempos nebulosos, disputas pelo poder, miséria, rivalidades, ambições e até condições clínicas pouco conhecidas se tornaram argumento de histórias encantadoras, fazendo-as viajar através dos tempos, mostrando ao leitor/ouvinte de qualquer idade que a vida impõe algumas dificuldades, mas aqueles que as enfrentarem com coragem e altruísmo triunfaram no final.

E assim, entre o “Era uma vez...” e o “Felizes para sempre, os Contos de Fadas mostram que em algum lugar, alguém já sofreu e lutou, conquistou aliados e enfrentou adversários até conseguir realizar seus desejos mais íntimos e sentir-se feliz. Feliz para sempre sim, por que se a felicidade é feita de pequenos momentos, a lembrança dos momentos felizes estará sempre no coração de quem os viveu!

Dias felizes para você e...   

Até a próxima!


 
Cristiane Takemoto
Fonoaudióloga, Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado em Linguística. 








REFERÊNCIAS:

BETTELHEIM, Bruno.   A psicanálise dos contos de fadas.   Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.
COELHO, Nelly N.   Literatura infantil – Teoria, análise, didática.  São Paulo: Ed. Ática: 1997.
RADINO, Glória.   Contos de fadas e realidade psíquica.   São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.

2 comentários:

  1. Maravilhoso texto!
    Adorei "passear" neste tempo através de sua escrita.
    Parabéns, Cristiane!
    Beijos!

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  2. Obrigada querida!
    Muito bom saber que estamos caminhando junto!
    Bjs

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Abraços!
Elaine Cunha