segunda-feira, outubro 15

O Tesouro de Bresa



O Tesouro de Bresa 
(Malba Tahan - Os melhores contos)



Houve, outrora, na Babilônia um pobre e modesto alfaiate, chamado Enedim.

Homem inteligente e trabalhador, que, por suas boas qualidades e amor no coração, era muito querido no bairro em que morava.

Enedim passava o dia inteiro, de manhã à noite, cortando, costurando e preparando as roupas de seus numerosos fregueses, e, embora, muito pobre, não perdia a esperança de vir a ser muito rico, senhor de muitos palácios e grandes tesouros.

Como conquistar, porém, essa tão ambicionada riqueza? – pensava o mísero alfaiate – Como descobrir um desses famosos tesouros que se acham escondidos?

Ouvira contar, histórias prodigiosas de aventureiros que haviam topado com cavernas imensas, cheias de ouro… E não poderia ele, à semelhança desses aventureiros felizes, descobrir um tesouro fabuloso?

Ah! Se tal coisa acontecesse, ele seria, então, senhor de um imenso e magnifico palácio… Teria numerosos escravos, e todas as tardes, num grande carro de ouro, puxado por mansos leões, passearia sobre as muralhas da Babilônia, cortejando amistosamente os Príncipes ilustres da casa Real.

Assim meditava o bondoso Enedim, quando lhe parou à porta da casa um velho mercador da Grécia, que vendia tapetes, imagens, pedras coloridas e uma infinidade de outros objetos extravagantes tão apreciados pelos Babilônios.

Por mera curiosidade, começou Enedim a examinar as bugigangas que o vendedor lhe oferecia, quando descobriu, entre elas, uma espécie de livro de muitas folhas, onde se viam caracteres estranhos e desconhecidos.

Era uma preciosidade aquele livro e custava apenas três dinares.

Três dinares. Era muito dinheiro para o pobre alfaiate. Para possuir um objeto tão curioso e raro, Enedim seria capaz de gastar até os dois últimos dinares que possuía.

Está bem, concordou o mercador. Fica-lhe o livro por dois dinares, mas esteja certo de que lhe foi de graça!

Afastou-se o vendedor e Enedim tratou, sem demora, de examinar cuidadosamente a preciosidade que havia adquirido. Qual não foi a sua surpresa quando conseguiu decifrar, na primeira página, a seguinte legenda, escrita em complicados caracteres caldaicos: “O segredo do tesouro de Bresa”.

Por Deus! Aquele livro maravilhoso, cheio de mistério, ensinava, com certeza, onde se encontrava algum tesouro fabuloso. O TESOURO DE BRESA!

Mas, que tesouro seria esse?

E com o coração a bater descompassadamente, decifrou ainda: “O tesouro de Bresa, enterrado pelo gênio do mesmo nome entre as montanhas do Harbatol, foi ali esquecido, e ali se acha ainda, até que algum homem esforçado venha a encontrá-lo”.

Harbatol? Que montanhas seriam essas que encerravam todo o ouro fabuloso de um gênio?

E o esforçado alfaiate, dispôs-se a decifrar todas as páginas daquele livro, custasse o que custasse, com o segredo de Bressa, para apoderar-se do tesouro imenso enterrado n’alguma gruta perdida entre as montanhas.

As primeiras páginas eram escritas em caracteres de vários povos. Enedim foi obrigado a estudar os hieróglifos egípcios, a língua dos gregos, os dialetos persas, o complicado idioma dos judeus.

Ao fim de três anos, deixava Enedim a antiga profissão de alfaiate, e passava a ser o intérprete do Rei, pois na cidade não havia quem soubesse tantos idiomas estrangeiros.

O cargo de intérprete do Rei era bem rendoso. Ganhava Enedim, cem dinares por dia; ademais morava numa grande casa, tinha muitos criados e todos os nobres da corte o saudavam respeitosamente.

Não desistiu, porém, o esforçado Enedim, de descobrir o grande mistério de Bresa. Continuando a ler o livro encantado, encontrou várias páginas cheias de cálculos, números e figuras. E, a fim de ir compreendendo o que lia, foi obrigado a estudar Matemática com calculistas da cidade, tornando-se, ao cabo de pouco tempo, grande conhecedor das complicadas transformações aritméticas.

Graças a esses novos conhecimentos adquiridos, pode Enedim calcular, desenhar e construir uma grande ponte sobre o Eufrates; esse trabalho agradou tanto ao Rei, que o monarca resolveu nomear Enedim para exercer o cargo de Prefeito.

Ativo e sempre empenhado em desvendar o segredo do tal livro, foi compelido a estudar profundamente as leis, os princípios religiosos de seu país e os do povo caldeu; com o auxilio desses novos conhecimentos, conseguiu Enedim dirimir uma velha pendência entre os doutores.

- É um grande homem o Enedim!

Declarou o Rei quando soube do fato.

- Vou nomeá-lo Primeiro Ministro.

E assim fez. Foi o nosso esforçado herói, ocupar o elevado cargo de Primeiro Ministro.

Vivia, então, num suntuoso palácio, perto do jardim Real, tinha muitos criados e recebia visitas dos príncipes mais poderosos do mundo.

Graças ao trabalho e ao grande saber de Enedim, o reino progrediu rapidamente e a cidade ficou repleta de estrangeiros; ergueram-se grandes palácios, várias estradas se construíram para ligar Babilônia às cidades vizinhas.

Enedim era o homem mais notável do seu tempo. Ganhava diariamente mais de mil moedas de ouro, e tinha em seu palácio de mármore e pedrarias, caixas cheias de jóias riquíssimas, e de pérolas de valor incalculável.

Mas – coisa interessante! – Enedim não conhecia ainda o segredo do livro de Bresa, embora lhe tivesse lido e relido todas as páginas!

Como poderia penetrar naquele mistério?

E um dia, conversando com um venerando sacerdote, teve a ocasião de referir-se à incógnita que o atormentava.

Riu-se o bom religioso, ao ouvir a ingênua confissão, e, afeito a decifrar os maiores enigmas da vida, assim falou:

- “O tesouro de Bresa já está em vosso poder, meu senhor. Graças ao livro misterioso é que adquiristes um grande saber, e esse saber vos proporcionou os invejáveis bens que já possuis.

Bresa significa “saber”. Harbatol quer dizer “trabalho”.

Até a próxima!
Elaine Cunha


2 comentários:

  1. sempre esperamos mais do que realmente já temos kkkk não conseguimos ver o obvio perfeito pra o dia de hoje adorei a história. Beijocas e uma ótima semana Elaine.

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  2. Pois é! Sem coragem e esforço em árduo trabalho, nada conquistamos. Obrigada!

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Elaine Cunha