sexta-feira, julho 6

A História da Infância e dos Contos - parte 1

CAMINHANDO COM Cristiane Takemoto.

A História da Infância e dos Contos
Primeira Parte
                                                 
Os homens primitivos, também chamados de pré-históricos, eram originariamente nômades, o que significa que viviam em um território enquanto encontravam suprimentos. Quando a caça e a coleta de frutos se tornavam escassas, eles se deslocavam para uma região onde houvesse abundância. Dessa maneira, foram se espalhando por diferentes continentes e povoando o mundo.

Dados arqueológicos indicam o modo de vida da sociedade primitiva e de como era composta por pequenos grupos, em geral com certo grau de parentesco. Nela, homens, mulheres e crianças tinha papeis semelhantes: caçavam, colhiam frutos e cuidavam do lugar onde moravam para evitar que outros grupos invadissem seu espaço. Entretanto, devido aos constantes deslocamentos e a falta de registro, pouco se tem para comprovar as hipóteses acerca da vida nessa época. Apenas algumas pinturas rupestres sugerem como viviam adultos e crianças pré-históricas.

Nas comunidades primitivas, provavelmente a educação acontecia de forma espontânea. Os antropólogos que se dedicam a este tema, dizem que não havia um integrante da comunidade primitiva que se ocupasse especificamente da educação das crianças. Ao contrário, todo o grupo era responsável pela educação das crianças que aprendiam através da imitação, da observação das cerimônias e da prática de pequenos trabalhos supervisionados pelos mais velhos.


Uma grande mudança no comportamento desses grupos aconteceu quando os homens pré-históricos perceberam que das sementes caídas no solo brotava uma nova planta, semelhante aquela de onde haviam colhido o fruto. A partir daí, teve início a agricultura e essa prática possibilitou a fixação do grupo em uma determinada região. Semear a terra possibilitou a armazenagem de mantimentos para as épocas de frio e de seca e com isso, os grupos ficaram maiores e mais fortes, atribuindo a partir de então, um grande valor a terra e ao habitat.

De acordo com os historiadores, o terreno usado para o plantio ficava próximo ao local onde o grupo habitava e as crianças eram usadas como força de trabalho semelhante aos adultos. Ao se referir a este estágio de desenvolvimento da humanidade, Lev Vygotsky (1999) diz que foi nesta época que o homem passou a desenvolver a linguagem articulada, usando-a como instrumento para as interações sociais e para a organização do trabalho.

Esta nova dinâmica operou uma verdadeira revolução visto que além de plantar, colher e armazenar os alimentos, os grupos passaram a observar o sol, a cultuar os fenômenos da natureza e a enterrar os mortos. Outro aspecto marcante foi que as disputas por solos férteis passaram a ser mais frequentes, fazendo com que as guerras se tornassem parte dessa nova realidade. 

      Fonte: http://wwwgoogle.com

Em 1981, o filme intitulado A Guerra do Fogo, dirigido por Jean-Jacques Annaud levou para as telas de cinema a batalha entre dois grupos hominídeos que disputavam entre si a posse do fogo e ao entrarem em contato com uma tribo mais evoluída, percebem que além de fazer o fogo eles tinham hábitos e linguagens diferentes.

Ganhador do 55º Oscar, o referido filme mostra cenas dos homens primitivos reunidos em torno do fogo, emitindo sons guturais e gesticulando. Tal visão poderia ter inspirado Joana Cavalcanti a escrever que desde tempos primitivos, homens mulheres e crianças se reuniam em volta do fogo para contar e escutar histórias. As ilustrações abaixo são de algumas cenas do filme e mostram os grupos ao ar livre e no interior das cavernas.

 Em diversas regiões do planeta, existem cavernas como as de Lascaux, Altamira e até aqui no Brasil, onde a FUMDHAM (Fundação Museu do Homem Americano) indica a existência de “260 sítios arqueológicos com pinturas rupestres”, segundo o site Wikipédia. Em cada uma dessas cavernas, é possível observar registros deixados pelos grupos que as habitaram. Em suas paredes, pinturas rupestres exibem famílias, animais e algumas atividades cotidianas como caçadas e confrontos.  


Tais gravuras retratam o modo de vida nesse período e mostram as crianças como integrantes indiferenciados dos grupos. Os historiadores especulam que a educação das crianças acontecia de maneira espontânea e que os indícios levam a crer que não havia castigos ou punições. Embora estas informações sejam consideradas confiáveis, deve-se considerar que o termo pré-história se refere a um período em que ainda não existia um sistema de escrita formal e as conclusões são tiradas a partir da análise dos lugares e de pequenos fragmentos de objetos encontrados.

Nas imagens encontradas, pequenas figuras humanas levam a crer que as crianças estavam sempre por perto. Sendo o mais dependente filhote ao nascer, elas sempre precisaram de cuidados e da companhia dos mais velhos para aprender e se desenvolver. Embora muitas coisas tenham mudado daquela época para cá, essa realidade permanece intocada. As imagens abaixo reproduzem este cenário. 



Não muito diferentes dos grupos neolíticos, ainda hoje existem povos que mantém sua cultura apartada da sociedade globalizada. São tribos africanas, aborígenes australianos, e indígenas sul-americanos. Em cada uma dessas etnias, as crianças continuam como integrantes que colaboram com os trabalhos e vivem sob a responsabilidade de toda a comunidade.


 
Como em grupos pré-históricos, nas tribos da atualidade as crianças aprendem através da observação dos costumes, da celebração dos cultos e da transmissão dos valores primordiais. Sentados em círculo, elas escutam e contam histórias de seus antepassados. Lendas, episódios cotidianos e ensinamentos são partilhados de maneira informal, durante as atividades, brincadeiras e na transmissão oral da cultura de cada povo.

No caminho da evolução humana, a vida social foi se tornando mais elaborada e os registros deixados pela sociedade egípcia indicam que as crianças eram tratadas com muito carinho e cuidado porque essa civilização já entendia que as crianças seriam a continuidade da sociedade, fazendo delas responsáveis pela preservação das crenças e dos rituais. Descoberto em 1827, o King’s Valley oferece provas de como os egípcios tratavam seus descendentes. Mais recentemente, em 1989, foi encontrada a sala KV5, e nela, as 50 múmias dos filhos do faraó Ramsés II. 

 

Na obra Ramsés - O filho da luz, Christian Jacq (1995) descreve a organização social e a educação no Egito Antigo. Baseado em estudos de egiptólogos famosos, entre outras coisas, o autor escreve sobre como as crianças eram conduzidas ao ofício de seus familiares e treinadas para o futuro. O próprio Ramsés II,  foi nomeado comandante-chefe dos exércitos do seu pai, o Rei Sethi I, aos 10 anos de idade e aos 14 anos participou de confrontos ao lado de seu pai.

Ramsés II  reinou de 1301 a.C. a 1235 a.C. e a escrita cuneiforme encontrada em monumentos e em papiros fornece informações consistentes sobre aquela época. Há registro do uso de técnicas de ensino baseadas na memorização e no uso de castigos e punições.  Outro aspecto muito valorizado nesse período era a harmonia familiar. Algumas esculturas mostram os filhos entre os pais.

Assim como em todo o Oriente Médio, na sociedade egípcia antiga, a educação variava de acordo com a classe social e em cada classe social, os filhos eram encaminhados para seguir o ofício dos pais. A educação se baseava em três eixos principais: aprender a falar, aprender o código moral e aprender a obedecer. Entre os nobres, a educação física também era importante e posteriormente passou a ser considerada uma forma de preparação para a guerra.  

Em relação aos contos, aparecem na cultura egípcia os antigos contos das Mil e uma noites, de origem árabe, onde a jovem Xerazade, escapa de um trágico destino distraindo seu algoz com histórias fantásticas. Entre as narrativas mais famosas até os dias atuais estão Simbad o Marujo, Aladim e a Lâmpada Maravilhosa e Ali Babá e os Quarenta Ladrões.

Populares em diferentes regiões do Oriente Médio, os Contos Maravilhosos eram histórias cuja temática se voltava para os problemas materiais e de ascensão social. Contando essas histórias, crianças e adultos pobres realizavam seus sonhos com riqueza e opulência. Eram narrativas tão marcantes que se espalharam pela Europa e ganharam o mundo.

No nosso próximo encontro falaremos mais sobre a infância e as narrativas orais em diferentes sociedades! Até lá!!
 

REFERÊNCIAS:

ANNAUD, Jean-Jacques. A Guerra do Fogo.  Aventura:  França e Canada, 1981.
CAVALCANTI,  Joana.  Caminhos da literatura infantil e juvenil.  São Paulo: Paulus Editora, 2002.
JACQ, Christian. Ramsés - O filho da luz. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1998.
VYGOTSKY, Lev S. A Formação Social da Mente. São Paulo, Martins Fontes, 1999.
__________ .    Pensamento e Linguagem. São Paulo, Martins Editora, 2008.



 


Cristiane Takemoto
Fonoaudióloga, Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado em Linguística. 

4 comentários:

  1. Estou aguardando o próximo post!
    Gostei muito do texto!
    Sabia que até hoje eu me impressiono com certas coisas? Por exemplo: como podem as histórias das mil e uma noites sobreviverem por tanto tempo? Como uma tribo consegue ser autossuficiente, respeitar a natureza e cuidar da educação das crianças e de todos da tribo de uma forma tão espetacular? E nós que vivemos numa sociedade (muito maior) não sabemos fazer nada direito? Como é também que os antropólogos vão tão a fundo na descoberta de culturas tão antigas?
    É, o conhecimento é realmente irresistível!

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  2. Muito interessante e bem trazido .Adorei e estaremos aqui na próxima, pra continuar! beijos,chica

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    1. Que bom que você gostou, Chica!
      Também estou adorando poder conversar sobre os contos e interagir com vocês!

      Encontro marcado então!

      Bjs

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  3. Pois é Misael, a arqueologia e a antropologia trazem preciosas contribuições para que possamos entender melhor como funcionava a sociedade em tempos muito antigos. É realmente fantástico poder vislumbrar cenários que quase se perdem no tempo.

    E o mais interessante é como os avanços das ciências e as novas tecnologias são determinantes para desvendar esses mistérios!

    Até a próxima!

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Abraços!
Elaine Cunha